Unidade 1. Fundamentos da RO
Definição de RO
O conceito de resiliência foi proposto inicialmente na área da ecologia por Holling (1973) que a definiu:
1 — como um sistema (ecossistema, sociedade ou organização) que prevalece num estado de equilíbrio (estabilidade); e
2 — pela forma como os sistemas dinâmicos se comportam quando em situações de stress e afastados deste equilíbrio.
No entanto, muitas áreas definiram o termo «resiliência» nas suas dimensões respetivas:
•Informática
•Psicologia
•Ciência de Materiais
•Infraestruturas …

A partir de um ponto de vista organizacional, especificamente no contexto do ambiente empresarial, existem várias definições de RO:

Com base nas definições acima, a RO pode, de um modo geral, definir-se como:
A capacidade de as organizações anteciparam eventos disruptivos e de recuperarem após mesmos de forma a se adaptarem eficientemente às novas circunstâncias.
A partir desta definição, podemos ver que as organizações precisam de antecipar, de se prepararem e de recuperarem de um modo adaptativo.
«Resiliência é aceitar a nossa nova realidade, ainda que seja menos boa do que a anterior. Podemos lutar contra ela, podemos chorar o que perdemos ou podemos aceitar a situação e tentar criar algo bom.»
Elizabeth Edwards

Capacidades necessárias para a RO
Com base na definição anterior de RO, uma organização resiliente é aquela que está preparada, que é adaptável e que tem a capacidade de recuperar após qualquer evento disruptivo.

A capacidade de preparação está relacionada com a perspetiva proativa, que diz respeito à preparação e à antecipação por parte das organizações; esta é uma capacidade necessária na fase pré-crise, ao passo que a resiliência é uma capacidade de reação que ocorre numa fase pós-crise, após a situação disruptiva. Para se prepararem (capacidade de preparação) e para recuperarem (capacidade de recuperação), as organizações precisam de se adaptar de forma rápida e eficiente, sendo por isso que a capacidade de adaptação é considerada necessária para as perspetivas pré e pós-crise.

Razões para a falta de RO
Entre as várias definições de resiliência, existe um elemento comum que são as razões pelas quais as organizações não são resilientes, ou seja, as disrupções.
As disrupções são compostas pelos elementos seguintes:

Nível da fonte de disrupção
O primeiro aspeto a ter em consideração sobre as fontes de disrupção é o nível no qual ocorre o evento disruptivo. É importante perceber se este ocorre na organização ou se os efeitos do evento que afeta a organização decorrem de um evento disruptivo que teve origem noutras entidades na rede de abastecimento ou que é exterior à rede de abastecimento na qual a organização opera.
As tendências de globalização atuais, o trabalho colaborativo e o outsourcing orientam a procura de soluções não só com foco numa organização ou nas várias entidades que constituem uma rede de abastecimento, mas também nos aspetos que vão além da relação da organização com as entidades presentes nessa rede.
-Intraorganizacional. Este nível refere-se ao facto de a disrupção ter origem na organização.
-Interorganizacional Este nível engloba todas as entidades na rede de abastecimento. Assim, a fonte de disrupção pode ocorrer em qualquer uma das entidades pertencentes à rede de abastecimento em estudo.
-Extraorganizacional Este nível inclui fontes de disrupção com origem noutras entidades exteriores à rede de abastecimento da organização ou até que se devam a fenómenos naturais, políticos, etc.
É utilizada uma classificação de eventos disruptivos de acordo com 3 níveis de fontes de disrupção para determinar se a preparação da organização é afetada pelos eventos disruptivos que ocorrem na própria organização, ou por eventos disruptivos que ocorrem em entidades que integram a sua rede de abastecimento ou que são exteriores à rede de abastecimento na qual a organização opera.

Origem e suborigens de fontes de disrupção




Sanchis (2017)
«Uma curva na estrada não é o final da estrada, a menos que não consiga virar.»
Helen Keller
Evento disruptivo
Outro elemento que está na origem da falta de RO são os eventos disruptivos em si, também conhecidos como choques, riscos, crises e incertezas, entre outros.
Evento disruptivo: Uma situação previsível ou imprevisível que altera o nível normal das operações e atividades de uma empresa, independentemente de onde ocorre, e que tem um impacto negativo na empresa.

Evento disruptivo. Fases
Qualquer disrupção significativa tem consequências negativas no desempenho das empresas, quer em termos das vendas, dos níveis de produção, dos lucros, do apoio ao cliente ou de outras métricas relevantes. Normalmente, uma disrupção está dividida em oito fases diferentes (Sheffi et al. 2005):
1.-Preparação Em alguns casos, as empresas podem antecipar e preparar-se para uma disrupção de modo a mitigar os efeitos da mesma. Por exemplo, as previsões meteorológicas de tempestades de neve, tornados, etc., podem ser muito importantes para que que as empresas se preparem para esse tipo de situações;
2.- Evento disruptivo Qualquer situação que ameace as operações diárias de uma empresa, por exemplo, greves, restrições impostas pelo governo, etc.;
3.- Primeira resposta Quando face a uma situação disruptiva, inicialmente, são tomadas as medidas apropriadas para que as consequências não se agravem, por exemplo, no caso de perigo para as pessoas, são tomadas as ações necessárias para evitar perigos adicionais;
4.- Impacto Inicial O impacto de algumas disrupções é imediato, enquanto que outras afetam as empresas a longo prazo; isto depende de fatores tais como a magnitude da disrupção, a redundância da empresa e a resiliência inerente da empresa e da respetiva cadeia de abastecimento;
5.- Impacto Total Quer o impacto seja imediato ou a longo prazo, quando ocorre, o desempenho da empresa cai drasticamente;
6.- Preparaçãopara a recuperaçãoA preparação para a recuperação, normalmente, inicia-se em paralelo com a primeira resposta e, por vezes, mesmo antes da disrupção, se for possível prevê-la;
7.- Recuperação Para voltar aos níveis de produção pré-disrupção, muitas empresas compensam as perdas de produção recorrendo a capacidades superiores às habituas, ou seja, horas extraordinárias e recursos adicionais de clientes e fornecedores;
8.- Impacto a longo prazo Após a disrupção, as empresas precisam de tempo para recuperarem e, consoante a gravidade das consequências, podem precisar de mais ou menos tempo. Em alguns casos, se as relações com os clientes tiverem sido grandemente afetadas, o período de recuperação poderá ser particularmente longo e difícil.

Razões para a falta de RO
Consequências

As consequências de um evento disruptivo são o efeito na empresa em que ocorre esse evento. Em relação aos eventos disruptivos que são inevitáveis, o foco deve estar em mitigar as consequências negativas dos mesmos e em transformá-los em oportunidades de negócio ou em valor acrescentado para os clientes. Assim, o impacto de eventos disruptivos é sempre negativo. Pode acontecer que, de uma situação adversa, possa surgir uma situação vantajosa; no entanto, é importante destacar a negatividade do impacto/consequências da ocorrência de eventos disruptivos.
A figura mostra um exemplo de duas empresas, A e B, que foram afetadas por um evento disruptivo. As consequências negativas da empresa B são superiores às da empresa A, mas o desempenho de B cai de forma mais abrupta, embora pareça que a empresa B possa recuperar mais rapidamente do que a empresa A.
Assim, as consequências de um evento disruptivo têm de ser analisadas de forma detalhada, tendo em consideração não apenas o efeito negativo na queda dos níveis de desempenho, mas também outros fatores, tais como a resiliência.
Capacidades necessárias para a RO
Capacidade de preparação
Os seres humanos tendem a pensar que estão mais preparados para qualquer circunstância adversa do que realmente estão (Paton e Johnston, 2001).
As empresas tendem a correr mais «riscos calculados» (Svensson, 2002).
Razões pelas quais as empresas estão, atualmente, mais suscetíveis:
•Maior dependência de clientes e fornecedores;
Eficiência vs. eficácia;
•Globalização
•Incerteza
•Transações
No momento em que ocorre um evento disruptivo, a empresa é forçada a passar de um estado de equilíbrio relativo para outro estado caracterizado pela instabilidade. A facilidade com que cada empresa avança para este novo estado instável é uma medida de vulnerabilidade, compreendida como a preparação para lidar com o evento disruptivo, enquanto o grau de resposta da empresa à mudança é uma medida da respetiva resiliência.
•Incerteza
•Transações

Capacidade de Adaptação
Definição: O grau no qual um sistema pode modificar as suas circunstâncias e avançar para uma condição estável (Luers et al., 2003).
Capacidade de modificar a sua estratégia, operações, gestão de sistemas, estrutura de gestão e capacidades de tomada de decisões para suportar eventos disruptivos (Starr, Newfrock e Delurey, 2003).

Quanto mais adaptável for a empresa, mais fácil é voltar ao nível de operação habitual, anterior ao evento disruptivo.
Processos resilientes: Flexíveis, ágeis e capazes de mudar rapidamente. A natureza dinâmica da capacidade de adaptação permite que as empresas: i) se preparem e ii) recuperem. (i) Preparar e (ii) recuperar.
•Incerteza

Capacidade de recuperação
Definição: Capacidade de responder a e recuperar após uma situação disruptiva.
A partir de um ponto de vista de resiliência, após um evento disruptivo, uma empresa não deve tentar recuperar da e ultrapassar a disrupção ao voltar ao seu estado inicial, mas sim recuperar e atingir o nível no qual existem vantagens competitivas.
Restauro de rotinas sociais e atividades económicas.
Principais barreiras à fase de recuperação: i) falta de comunicação e iii) não cooperação.
•Incerteza
•Transações

Resumo e Conclusões Principais
1. A RO é a capacidade de as organizações anteciparam eventos disruptivos e recuperarem após mesmos de forma a se adaptarem eficientemente às novas circunstâncias;
2. As capacidades necessárias para a resiliência empresarial são a preparação, a adaptação e a recuperação;
3. É importante caracterizar os potenciais eventos disruptivos que afetam a organização para definir as ações adequadas que devem ser implementadas.
Verifique os seus conhecimentos
1. Após o impacto de um evento disruptivo, uma empresa deve recuperar para que nível de operação?
A partir de um ponto de vista de resiliência, após um evento disruptivo, uma empresa não deve tentar recuperar da e ultrapassar a disrupção ao voltar ao seu estado inicial, mas sim recuperar e atingir o nível no qual existem vantagens competitivas.
2. A partir de um ponto de vista empresarial, que recursos, normalmente, são utilizados pelas empresas para recuperarem após um evento disruptivo?
Através da utilização de capacidades superiores às habituas, ou seja, horas extraordinárias e recursos adicionais de clientes e fornecedores.
3. Porque é que, atualmente, as empresas estão mais vulneráveis a eventos disruptivos?
•Maior dependência de clientes e fornecedores;
Eficiência vs. eficácia;
•Globalização
•Incerteza
•Transações

Referências
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